sexta-feira, 19 de abril de 2013

Felicidade





Definir felicidade é uma tarefa árdua e que vem sendo objeto de estudo há séculos. A Biologia, Psicologia, Filosofia e as Religiões tentam, há muito, descrever o que afinal de contas é felicidade, e quais são suas fontes e origens.

Resumidamente, podemos tratar a felicidade como um estado mental ou emocional de bem estar, caracterizado por emoções positivas ou agradáveis. Várias vertentes de pesquisa, incluindo a Psicologia Positiva, buscam estabelecer métodos científicos para a mensuração da felicidade; entretanto, a busca continua, sem que resultados satisfatórios tenham sido encontrados.

A principal dificuldade em desenvolver esta almejada “Ciência da Felicidade” parece ser a grande batalha que é descrever o que causa a felicidade, e a total subjetividade de suas raízes. Algumas pessoas se sentem felizes por determinados motivos, mas estes motivos não se aplicam a todos os grupos de pessoas. Aparentemente, as causas da felicidade são tantas quanto são as naturezas humanas – infinitas e imensuráveis.

Atingir um estado de felicidade se torna, assim, tão complexo quanto o próprio psiquismo humano o é. Felicidade pode ser confundida, por alguns, com dinheiro. Por outros, com beleza. Alguém pode se sentir feliz diante de um belo pôr do sol, enquanto outros a resumem a um prato de comida. Assim, a felicidade enquanto objeto Uno, passível de ser alcançado por todos, não existe. Absolutamente como tudo na vida, a felicidade também é relativa, e depende de inúmeros fatores – sociais, culturais, econômicos e de sobrevivência. Em nossa sociedade atual, caracterizada pelo consumo, a felicidade é constantemente associada a adquirir algo que ainda não possuimos: a casa na praia, o mais moderno computador, o brilho no cabelo, a barriga perfeita,, a televisão de tela plana de alta definição. E, sendo projetada para o que existe fora de nós, a felicidade sempre durará muito pouco, pois sempre existirá uma casa maior, mais bonita, em uma praia mais bela. Sempre inventarão um computador mais avançado, uma televisão maior, uma nova moda nos cortes de cabelo ou um padrão de beleza mais idealizado.

O sonho humano de felicidade é, assim, irreal e ideal, moldado pela sensação de conforto e prazer, e tais noções mudam com o passar dos anos e com a fase de desenvolvimento pessoal e amadurecimento psicológico de uma pessoa. Quando perseguimos determinado objetivo e o conquistamos, nos sentimos felizes; mas esta felicidade não corresponde, no entanto, ao sentido profundo e à magnetude dos quais a idéia de felicidade é revestida.

Se você continua na busca pela sua felicidade, procurando a última peça do quebra-cabeça que se encaixará formando a imagem de felicidade e dando sentido à tudo no jogo da vida, reflita: você já passou a maior parte da sua vida fazendo exatamente isso. Você, eu e todos os seres humanos que existem – tirando uns poucos iluminados – passamos a maior parte de nossos anos de existência perseguindo o ideal da felicidade duradoura. Nunca conseguimos entender, entretanto, que essa busca vem sendo nossa maior inimiga, e que quanto mais perseguimos a felicidade, mais nos distanciamos dela.

A felicidade duradoura é uma meta impossível, pelo simples fato de que absolutamente nada na vida é permanente. Assim como as estações do ano se sucedem em um ciclo sem fim, as nossas células se renovam a cada instante. A vida é sinônimo de mudança, portanto, as coisas nunca permanecerão sem se transformar, e nós sempre estaremos nos adaptando a estas transformações: tudo o que existe nasce, cresce, amadurece, deteriora e morre. Nenhuma emoção ou sentimento é duradouro. Com a felicidade não seria diferente. Ela sempre estará a ir e vir.

Além disso, tudo que chega a seu extremo imediatamente começa a se transformar em seu oposto. É assim com o Sol, que ao atingir seu ápice no céu ao meio-dia, imediatamente passa a diminuir, dando espaço à Lua. Também as águas que se evaporam e sobem aos céus: quando atingem o máximo de condensação das gotículas, elas se tornam pesadas e caem de volta na Terra. Assim é também conosco: depois de nos tornarmos adultos maduros, começamos a envelhecer, e um dia morreremos. O outro lado da felicidade é a tristeza: alcançar a felicidade máxima é, também, começar a caminhar na direção da tristeza.

Não precisamos atingir uma felicidade duradoura. Ela não precisa ser duradoura, maior, permanecer conosco durante toda a eternidade. Precisamos de contentamento, precisamos de satisfação com nossas vidas – o que não implica na noção de perfeição. A vida não precisa ser perfeita para ser boa. Você não precisa ser perfeito para ser bom. Você precisa ser você: sonhar seus sonhos e caminhar na direção dos que deseja transformar em realidade. Pedras vão surgir no caminho e, diante delas, podemos fazer duas coisas: ou nos lamentamos e desistimos de caminhar, achando que porque a pedra está ali o caminho não é bom o suficiente… Ou tiramos a pedra do caminho, mesmo que dê um pouco de trabalho. Podemos guardá-la em algum lugar e, mais para a frente, nos utilizar dela para fazer fogo, junto com um graveto. Ou para construir um castelo.

O que estou sugerindo é: reconheça a dor. Acolha a dor: ela é inevitável. A frustração é inevitável, mas não devemos evitá-la, e sim abraçá-la, aprender com ela. A frustração faz parte de quem somos, diz sobre nossos sonhos e metas e pode nos ajudar a crescer; basta que a exploremos e ouçamos atentamente o que ela tem a nos dizer. Isto é contentamento: aceitar a vida como ela é. Quando aceitamos a vida como ela é, e as coisas como elas são, aceitamos a nós mesmos como somos – com nossas qualidades e defeitos.

Felicidade é isso: é o que é. É amar o que é, e a infelicidade é não amar o que é. Quando aceitamos o que é, não somos felizes por causa de coisas, e sim apesar das coisas. Descobrimos que a felicidade não é o destino, mas sim o próprio caminho – o ato de caminhar.


Flavia Melissa
http://flaviamelissa.com.br/

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Eu acredito em milagres








Por Flavio Siqueira,

Eu acredito em milagre. Aliás, eu os vejo todos os dias, o tempo todo.

Quando saio da cama e olho pela janela, tudo escuro, o som dos pássaros que acordam, a brisa gelada da manhã.

Só o milagre explica a sensação de fechar os olhos e sentir o mundo inteiro pulsando dentro de mim, o universo que vive em minha mente, as possibilidades e variações que existem em cada movimento.

Eu acredito em milagre.

Quando vejo meu filho crescendo, quando sinto amor e vontade de ser alguém melhor. Quando enxergo meus limites e tento superá-los na minha eterna luta por ser mais do que a media convenciona que é bom.

Acredito no milagre continuo, presente, natural, que está no que chamo de simples e, talvez por isso, nem sempre enxergo.

O milagre mora em mim. Sou um milagre quando vejo, sinto, me movimento, falo. Quando, falho, finito, boneco de carne que sou, me deparo com uma chama que me transcende, não se prende ao tempo ou ao espaço e que mora dentro de mim, dizendo o tempo todo que sou mais do que um esqueleto que sustenta um monte de orgãos, carne e sangue.

Milagre não é o espetáculo. Sagrado não é o que a gente determina.

O milagre está em mim, está em nós, sempre, cedinho, nos primeiros movimentos da manhã e no ultimo suspiro do anoitecer, continuamente e a gente nem vê.

O milagre é natural e irrestrito. O Sagrado está em todo o lugar.

Acredito no milagre da vida, esse breve lapso de existência que caminha para o apodrecimento do corpo, mas que não me cessa, não me prende, nem me convence que um dia terminará. Só o milagre explica o jeito que, apesar dos pesares, sou remetido dia e noite para um lugar onde não caibo, mas que estranhamente cabe dentro de mim.

Hoje sei que não há sequer um momento em que a vida deixa se movimentar, criando um fluxo que me trás de volta a mim mesmo. Como o corpo que se cura depois de um corte, a natureza que renasce depois do incêndio, o fluxo natural é sempre ao encontro de nossa essência, na regeneração de nossa consciência.

Quanto a mim, apenas enxergo. Esse é meu único papel : Abrir os olhos, desintoxicar os sentidos, alimentando a percepção que me traz de volta para casa, lembrando dia e noite que o milagre está em mim, que o milagre sou eu.


Flavio Siqueira
http://flaviosiqueira.com